Artista plástico diz que pinta para manter vivas as raízes de Cuiabá
Com a veia artística aflorada desde pequeno, Wender Carlos Cardoso Nascimento colhe hoje os frutos de seu talento, sendo reconhecido como um dos principais nomes da arte plástica mato-grossense. Em suas obras, o pintor exibe traços que transmitem a essência da cultura cuiabana em cada pincelada.
Wender Carlos, que também é professor de História da rede pública estadual, percorreu um longo caminho para se transformar no que é hoje.
Sua paixão pela arte começou em 1992, aos 11 anos, no Ateliê Livre da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), durante oficina ministrada pelo artista plástico Nilson Pimenta chamada “Meninos do Pedregal”.
No projeto, Nilson reunia os jovens do bairro para ensinar tudo que sabia, transformando a criatividade juvenil em lindas telas.
“Fui morador do Pedregal e o Nilson morava lá também. Ele convidava os meninos e fui um dos que participaram do movimento. Fui aprendendo, sempre gostei desde criança. Foi assim que peguei gosto com as coisas”, conta Wender.
O pintor se tornou professor de História anos após dar seus primeiros passos como artista. Hoje, concursado do Estado, ele se consolidou nas duas profissões, unindo os estudos dos acontecimentos históricos com a produção de suas obras.
Apesar da aparente diferença entre os dois ofícios, Wender conta que os conhecimentos da arte e da História se complementam, com o historiador auxiliando o professor e vice-versa.
“Por exemplo: se você pega um livro de História vai ver muita coisa falando sobre os movimentos das artes. E o meu trabalho artístico me ajuda a explicar isso, deixando tudo mais prático e didático, com uma metodologia de ensino melhor”, explica.
Cultura sobre tela
As inspiração artística está no sangue de Wender. Ele cita seus primos Sebastião Silva e Julio Cesar - que também são pintores consagrados no Estado - como inspiração para o professor continuar criando suas obras.
Ao falar sobre os quadros, ele descreve seus traços como pinturas regionais que retratam memórias da infância na Capital. Por meio de sonhos e lembranças, o artista plástico constrói sua arte.
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Wender Carlos apresenta uma de suas criações, "Mandala regional"
“Trabalho muito com as memórias e imagens de quando eu enxergava uma Cuiabá mais simples. Hoje a Capital é muito mais urbanizada, mas ainda quero manter suas raízes vivas”, explica.
Todo o esforço e tempo dedicados em sua paixão trouxeram resultados que o jovem Wender de 11 anos não poderia imaginar. Uma lista extensa preenche seu currículo com diversas exposições pelo Brasil e até fora do País. Inclusive o artista já foi vencedor de várias premiações em salões de arte em Mato Grosso e fora do Estado.
“Naquela época, quando fui ao primeiro evento, fiquei super-motivado por ter meu trabalho reconhecido no cenário das artes. Isso me deu uma empolgação a mais e prestígio”, recorda.
Sobre o futuro, o artista afirma está se preparando para a Bienal de 2020 em São Paulo, onde vai exibir quadros inéditos. O profissional precisou passar por um seleção com centenas de outros artistas para ser escolhido nesta edição. Esta não é a primeira vez de Wender no evento, mas ele vê cada uma das vezes como se fosse a primeira conquista.
Agora ele está investindo em quadros conceituais e originais, que mantenham as características de suas pinturas, porém acrescentando aspectos originais e trabalhados, diferentes das obras que são comercializadas.
Apoio do Estado
Passados 27 anos desde sua primeira interação com a pintura, Wender reconhece que os dias atuais são mais sombrios e complicados para os novos artistas que vêm surgindo em Mato Grosso. Tudo isso por conta do corte de verba da cultura.
"O governo não dá mais apoio, cortou tudo. Para quem está iniciando agora é mais difícil, ainda mais para quem quer viver de arte. Na minha época, eu tive sorte. E agora, como sou reconhecido e para quem já tem história e mercado no cenário artístico, não é tão complicado", explica.
Ele reconhece que sua posição é privilegiada, ainda mais por trabalhar como professor e não depender exclusivamente da venda de seus quadros. Wender conta que, antes de passar no concurso para ser professor do Estado, vivia apreensivo com o futuro, já que seu emprego nas escolas nunca era garantido. Esse sentimento incerto inclusive afetava a produtividade das pinturas, pois existia uma pressão que ele depositava em si mesmo para conseguir sustentar sua família.
Com a falta de apoio em Mato Grosso, o artista plástico conta que tenta ajudar como pode aqueles que estão começando, oferecendo oficinas gratuitas ou com apoio da iniciativa privada para incentivar os jovens pintores nos bairros da Capital, assim como o projeto que o fez descobrir sua vocação para as artes plásticas. Para ele, esse trabalho é fundamental para manter a cultura mato-grossense viva no cenário das artes.
"Trabalhar com arte tem muito a ver com a criação. Você produz coisas que estão na sua cabeça e que você acredita que vai contagiar outras pessoas através da sua obras. Os jovens precisam disso para seguir acreditando na cultura e no benefício que ela pode trazer para a sociedade.", afirma.