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Conheça a história do lanche criado em Cuiabá que fomentou o segmento de comida de rua


Quem hoje se delicia com o cardápio da Máfia Pizzaria não imagina que o dono do local, Ale Arfux, 68 anos, é um dos pioneiros no segmento de lanche de rua em Cuiabá. Chegou aqui em 15 de março de 1973 com o sonho de reconstruir a vida, depois de passar por um crítico momento financeiro. Aos 24 anos, veio de Corumbá com o negócio praticamente montado. Trouxe o trailer, um cardápio, e o Raul, chapeiro responsável pelos sanduíches da Hot Dog Gato Frio. A lanchonete logo se tornou um point na cidade. Ficava na Av. Prainha. E foi lá onde nasceu uma iguaria cuiabana: o X-bagunça. A inovação fomentou o segmento de comida de rua na capital mato-grossense e, anos mais tarde, se tornou o "pai" do popular Baguncinha, lanche gerado em meio à crise econômica da "Era Collor". Até mesmo o costume de comer o lanche dentro do carro, como atualmente ocorre, por exemplo, na Avenida do CPA, surgiu naquela época. Era só piscar os faróis que lá ia o garçom. Tudo começou a partir do pedido de Érico Preza, faminto e assíduo cliente da Hot Dog Gato Frio. "No dia 31 de março eu inaugurei apenas com lanches tradicionais [misto quente, x-salada e bauru] no cardápio. Um mês depois, o finado Érico pediu algo diferente. Eu subi no trailer e falei: 'vou fazer uma bagunça no pão pra você'. Peguei tudo que tinha, coloquei no pão e dei pra ele comer", lembra Ale Arfux. A experiência gastronômica, de cara, mostrou o seu potencial. Naquela noite, foram vendidos 56 X-bagunças. Visionário, Ale soube que o sanduíche veio para ficar. "Uma semana depois estava no cardápio!". Como o cuiabano não perde tempo, em poucos meses os trailers se espalharam pela cidade e o X-bagunça foi incorporado aos cardápios. Antes disso, Cuiabá era carente no segmento de lanche de rua. "A vida noturna era agitada, mas não tinha lanchonetes. Só tinha o antigo Hawaí Lanches. E quando eu fui patentear, já era de domínio público", conta o empresário. Hoje, o X-bagunça também é vendido nos países vizinhos, Bolívia e Paraguai. "Sinto orgulho de fazer parte da gastronomia cuiabana. Jamais imaginei que teria tanto sucesso como teve", diz. Durante o tempo em que comandava a lanchonete, Ale Arfux morou no trailer. Com o sucesso, seguiu investindo na gastronomia. Teve diversas casas na cidade, como a Magestic, Galeto na Brasa e Papa-pizza, que teve esse nome por causa da visita do Papa João Paulo II a Cuiabá. Agora, trabalha apenas coma Máfia Pizzaria. O BAGUNCINHA A crise econômica do governo do ex-presidente Fernando Collor de Melo, hoje senador, tem relação direta com o surgimento do famoso Baguncinha nas ruas da capital mato-grossense. Diante da falta de recursos generalizada, as lanchonetes optaram por adaptar o X-bagunça. Os ingredientes eram os mesmos, mas a quantidade era menor: meia salsicha, meia porção de queijo...E, claro, o preço mais em conta. "A crise ensina a criar", avalia Ale Arfux, que não estava em Cuiabá nessa época. Outra curiosidade sobre o lanche é que ele já foi até tema de tese de doutorado, intitulada "O sanduíche baguncinhha nas ruas de Cuiabá - MT: avaliação de intervenção educativa". A pesquisa foi feita por Aída Couto Bezerra e apresentada à Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Na tese, Aída lembra a importância econômica e nutricional da comida de rua, sempre associada ao preço baixo e ao emprego informal. De fato, a crise ajuda a expandir essa atividade. Basta observar a quantidade de "espetinhos" que surgiram no último ano, com a nova queda na economia nacional. Para os interessados em investir no segmento, o criador do X-bagunça dá uma dica: "É preciso ter qualidade e bom atendimento".

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